quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Como Saber se é verdadeiro ?


Como saber se um sentimento é verdadeiro?, ouvi uma romântica perguntar para outra, em uma dessas conversas de corredor. Como estava atrasada e minhas boas maneiras estavam firmes e fortes nesse dia, passei adiante e não esperei a resposta. Mas, fiquei formulando bons argumentos e explicações quase empíricas, para o caso de alguém me fazer o mesmo questionamento em uma outra oportunidade. Então, um dia desses, aconteceu. Me perguntaram como seria possível dizer que um sentimento entre duas pessoas é verdadeiro. E eu estava preparada para duas respostas – cujos critérios de escolha seriam meu tempo disponível, minha paciência e a maturidade de quem me dirigisse a pergunta. A primeira resposta era simplista demais, mas deveria servir para um caso de pressa. Eu diria que não há como saber. Direta e rapidamente, eu diria que para cada sentimento entre duas pessoas, há um risco embutido que é necessário assumir. Você apenas mergulha e se permitesentir, apostando as fichas na possibilidade de que a outra pessoa envolvida sinta o mesmo por você – e que sinta de verdade. Acredito que essa seja uma boa resposta e, talvez, a mais praticada ao redor do mundo. Muitos não sabem ao certo se seus sentimentos por alguém são profundos, verdadeiros, imutáveis; e, muito menos, se são verdadeiramente correspondidos. Mas, mesmo assim, todos correm o risco.
Na ocasião, porém, fiquei com a segunda opção de resposta que eu havia bolado para a mesma pergunta. Eu estava inspirada e minha interlocutora tinha algum tempo livre. Então, despejei sobre ela todo o açúcar e a credulidade necessários para que levasse a sério o que eu dizia. O mesmo que digo agora, com a mesma certeza digna de um testemunho em tribunal: Quando os sentimentos são verdadeiros, a gente simplesmente sabe que são. De um modo ou de outro – ou de vários modos, na realidade – nós apenas sabemos. Quando alguém segura nossa mão, alguma coisa nos aponta se há ou não sinceridade naquele gesto. Quando alguém acorda ao nosso lado e nos faz acreditar que nossos olhos ainda inchados e pesados são maravilhosos de se ver, a gente simplesmente sabe se é sincero.
Não é naquelas sextas-feiras, em que escovamos os cabelos, usamos vestidos justíssimas e nos perfumamos com Nina Ricci para o encontro a dois, que sabemos que o sentimento é verdadeiro. Nós só descobrimos no sábado, quando o telefone finalmente toca. E quando volta a tocar no domingo, na segunda, na terça… Ou depois, quando atendemos a porta despreparadas, de camiseta surrada e short desbotado, com os cabelos desgrenhados e metade das unhas ainda por fazer, e recebemos o mesmo sorriso de admiração. É quando choramos pela primeira vez no colo do outro, quando queimamos o primeiro bolo de chocolate, quando pegamos um resfriado no fim de semana, quando tropeçamos, soluçamos ou nos engasgamos. É nas menores coisas e nos mais insignificantes acidentes do dia a dia que a gente descobre se um sentimento é verdadeiro. Naquela flor roubada do canteiro do prédio sem que o síndico perceba, naquele convite ilustre para jantar com a família, naquela música ensaiada ao violão para impressionar, naquele eu-te-amo sussurrado, de quem não precisa falar alto para falar sério, a gente sabe. A gente sempre sabe. Antes disso, é claro, a gente assume o risco e se joga do penhasco sem testar o paraquedas. E quando ele, enfim, se abre, a gente respira com alívio e percebe que aquilo é real. Então, com tranquilidade, a gente voa.

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